Se tem uma coisa que torna uma cidade mais interessante é a diversidade culinária. E, nesse ponto, Porto Alegre não deixa a desejar. Pelo contrário! Para além do churrasco e da representatividade de cozinhas dos povos que colonizaram a região, tem sabores e memórias de todos os continentes por aqui. O Sindicato de Hospedagem e Alimentação (SINDHA) nos convidou para dar uma volta ao mundo gastronômica e a gente embarcou nessa! Depois de viver a experiência de cada um dos seis restaurantes, podemos garantir que, além de diversidade, aqui tem verdadeiras experiências para quem adora conhecer diferentes culturas e muita, mas MUITA qualidade!
Le Bateau Ivre: o requinte e aconchego da culinária francesa
Começar essa lista com o “Bateau” já mostra que levamos a sério o tema volta ao mundo. Estamos falando de um dos restaurantes mais premiados da cidade e com uma história de amor pela culinária que vem de família. O fundador é Gerard Durand, um francês que se apaixonou por uma gaúcha e decidiu viver aqui. O casarão que recebia os clientes para se deliciarem com clássicos franceses, foi o mesmo local onde cresceram os filhos Cauê e Yasmin. Os dois tocam o restaurante desde o falecimento do pai, em 2018. De lá para cá, o local mudou de endereço, mas manteve o requinte que conquistou frequentadores fiéis. Nossa experiência foi de imersão no que melhor a França e o Le Bateau Ivre têm a oferecer, com um atendimento sensacional e direito a harmonização com vinho. O ambiente tem uma pegada de restaurante internacional, com diferentes adegas à mostra, e uma ode mais que merecida ao criador de tudo aquilo. A foto do Gerard com os filhos pequeninhos, em uma estante em cima do balcão da cozinha aberta, me deu um quentinho no coração e fez eu me sentir em casa – mesmo estando em um lugar tri chique e elegante!
Imperdível por lá:
As Ostras gratinadas ao Champagne e Safran são uma experiência a parte e conquistam até que não é assim tão fã desse fruto do mar. Agora, a surpresa mesmo foi o Filet Mignon en Crôute – a versão francesa do Filé Wellington – uma carne no ponto perfeito, com cogumelos, presunto parma e envolto em massa folhada. Très merveilleux (mas se tu quiser provar, fica atento, pois eles pedem para reservar com 24h de antecedência)! Os franceses sabem fazer queijos incríveis, então também vale experimentar os pratos com Camembert, Brie e Roquefort. Nas sobremesas, o Creme Brûlée é uma delícia e o Profiterole ganhou nossos corações.
Koh Pee Pee: uma viagem para a Tailândia
Quem diria que um dos restaurantes mais tradicionais e amados de Porto Alegre – a capital do churrasco – seria da mais autêntica gastronomia tailandesa? Há mais de 35 anos o Koh Pee Pee é sucesso absoluto entre moradores e visitantes. Pensa que até o Mick Jagger já passou por lá! O cardápio é muito variado e atende a todos os paladares (até dos que não curtem pimenta). É uma verdadeira viagem pelos sabores tailandeses, valorizando as diferentes texturas e o agridoce que é tão característico desta culinária. Para completar a experiência, o Koh Pee Pee traz elementos exóticos e decorativos no estilo “thai” no ambiente. O estabelecimento já recebeu diversos prêmios, inclusive o selo Thai Select, concebido pelo governo da nação asiática.
Imperdível por lá:
A novidade do momento é o Menu Sawadee, composto por entrada, prato principal e sobremesa. É uma baita opção para quem quer conhecer a culinária tailandesa com um preço mais acessível. A entrada Kung Hom Pa (camarão envolto em massa crocante, recheado com castanhas, porco e gengibre) é sensacional. O Gai Pad Nam Prik Pao – frango com pasta de pimenta e arroz thai jasmim – e o Nuea Goong Paw Guai – massa com frutos do mar, cogumelo shitake e tomate cereja – são pura explosão de sabores na boca. A sobremesa favorita foi Kluai Buat Chee, com banana, leite de coco e sorvete de creme.
Aora Cucina: o charme e o sabor da Itália
Esqueça os adereços em xadrez, bem característicos das cantinas italianas. O Aora Cucina recebe os clientes em uma casa histórica, no Quarto Distrito, que transporta nossa imaginação para uma cidadezinha no interior do país europeu. Quem nos recebeu na chegada foi a Alícia, proprietária que também nos apresentou o estabelecimento. Sem nada pitoresco, a alma italiana está nos detalhes – como a parreira e a árvore de limão-siciliano no pátio – e no sabor da comida. O restaurante tem luz baixa e, no salão principal, a iluminação mais intensa vem do enorme balcão aberto para a cozinha, que nos permite enxergar a preparação dos pratos pelo Chef Claudio Mesquita. Apesar de ser um restaurante “jovem”, já conquistou lugar consagrado, com prêmios e reconhecimento na capital gaúcha. Durante a enchente de maio de 2024, o Aora foi atingido e houve uma comoção muito grande entre os clientes que comemoraram o retorno.
Imperdível por lá:
A burrata é sensacional, mas acompanhada do tomate confit fica implacável. Se tem uma combinação que os italianos fizeram bem é queijo e tomate. Eleito duas vezes o melhor da cidade, não deixa de experimentar o Risotto Alla Pescatora – polvo, lula, camarão e damasco. Também experimentei a lasanha – aquela escolha que não tem erro e faz jus à fartura e ao sabor que os italianos tanto valorizam. Se tu é fã de chocolate, vai amar a Crostata Di Cioccolato (torta de chocolate meio amargo), mas se tu prefere sobremesas de frutas, a Pavlova vai adoçar teu dia em uma combinação de merengue, nata, morango, doce de ovos e calda de frutas vermelhas.
Teranga: um passeio pelos temperos e costumes da África
O verdadeiro sabor de países como Senegal, África do Sul e Angola, tu encontra na esquina da Nova York com a Berlim. Só em Porto Alegre mesmo, hein!? Essa mistura de culturas é o que torna nossa cidade ainda mais criativa e vibrante. E cativou o senegalês Sidy, que após rodar o mundo estudando gastronomia, escolheu a capital do Rio Grande do Sul como morada. O estabelecimento ganhou uma decoração cheia de referências da cultura africana, mas o que nos encantou mesmo, foi o carisma do chef, que além de preparar pratos surpreendentes e muito gostosos, tira sempre um tempinho para trocar uma ideia com os clientes. O que descobrimos é que muitos alimentos que estamos acostumados têm influência africana – como o bolinho de chuva, por exemplo, que tem um primo no Senegal, chamado Beignet, e é coberto com mel. O Sidy nos explicou que uma característica muito forte na comida dos países da África é ter ingredientes sempre frescos. A apresentação impecável dos pratos é um toque de quem entende de gastronomia. Os porta-retratos nas paredes estampam momentos da família do anfitrião e tornam o ambiente mais acolhedor.
Imperdível por lá:
Além do Beignet, adoramos a entrada de antepasto com legumes e especiarias, chamada Chakalaka – tradicional da África do Sul. Tenho certeza que os gaúchos vão amar o Thiébou Yap, que é um arroz temperado, com carne de cordeiro e legumes – uma versão senegalesa do nosso amado carreteiro. Diretamente de Angola, Muamba de Galinha – o mais surpreendente de todos e incrivelmente delicioso. Tu sabia que o Quindim é adorado por lá? Mas não sozinho! Acompanhado de lascas e leite de coco e morango. Deu um tchan, viu? Outro item que conhecemos bem e é estrela no menu de sobremesas é o Fubá! Para finalizar, as bebidas típicas são um capítulo à parte. O hibisco brilha muito e o gengibre também.
Iaiá Bistrô: o que tem de mais especial na comida do nordeste brasileiro
Se a volta é no mundo, claro que tem parada no Brasil. E é em um queridinho da Zona Sul de Porto Alegre: o Iaiá Bistrô. Instalado em uma casa bem ampla e iluminada, cheia de janelinhas simpáticas e arejadas, é bem perceptível que o imóvel era uma residência. E a proprietária e Chef Daniela Craidy fez questão de manter essa essência de lar. O restaurante traz elementos da cultura nordestina na decoração, sem ser pitoresco. São itens de artesanato de ótimo gosto, aliás! No cardápio, pratos muito bem servidos que representam a paixão pelos frutos do mar, em especial, ou uma bela feijoada durante o inverno. Apesar de ser um lugar já tradicional, o Iaiá está sempre se reinventando. Atualmente, passou a oferecer menu executivo para o almoço e costuma realizar eventos, como o Boteco da Iaiá, com música e um cardápio de aperitivos como pasteis, mini acarajé e bolinhos. Nos findes, é o destino certo para famílias – inclusive com crianças, que são muito bem-vindas e bem tratadas no local. Nos dias de semana, casais e amigos gostam de fazer as refeições por lá. Os pratos coloridos e bem temperados são de encher os olhos e a barriga. Apesar de ser o representante do Brasil, o Iaiá também nos dá a sensação de sair de Porto Alegre. Localizado em uma rua tranquila, rodeado por árvores e sempre com uma brisa que vem do Guaíba, juro que me sinto na praia (só faltou o mar)!
Imperdível por lá:
Já falei dos frutos do mar né? A Moqueca é sensacional, com ostentação de camarões, polvo, lula e mariscos. Chega fervendo, em uma panela de ferro e acompanhada de arroz, farofa com banana e quiabo. Outro diferencial são os camarões – aqueles bem suculentos. Vale a pena provar o Bobó que é outro prato dos deuses. Nos almoços de quarta a sexta-feira, o restaurante oferece a Panelinha do Iaiá Bistrô, um menu executivo com toda brasilidade e equilíbrio que a cozinha brasileira tem. Ah! Para sobremesa, que mistura absurdamente maravilhosa é a cocadinha com sorbet de limão.
Outback: a versão cinematográfica da Austrália
Confesso que não sei quase nada sobre a Austrália, para além de lindas praias, cangurus e coalas. Talvez por isso fui surpreendida quando descobri que o Outback é, na verdade, um restaurante de origem norte-americana, inspirado no filme Crocodilo Dundee. A comédia é ambientada no deserto australiano, chamado Outback. E daí vem a decoração com a temática da nação da Oceania. No cardápio, os pratos têm muito mais conexão com a culinária da região sul dos Estados Unidos, New Orleans e Lousiana. Isso quer dizer que tiraremos o Outback da nossa lista? Claro que não! Apenas vamos aproveitar para carimbar o passaporte de dois países de uma vez só na nossa volta ao mundo gastronômica. Até porque os brasileiros amam tanto essa mistura, que a nossa paixão pelo restaurante já foi até tema de artigo no The Washington Post. Aqui em Porto Alegre não é diferente. Com quatro unidades, a gente foi na mais antiga e tradicional, a do Iguatemi. Uma das coisas que eu mais adoro é que o Outback tem um cheirinho característico e único. Sabe aquele pãozinho que eles servem como entrada? É uma criação do restaurante e ficou famoso como “pão australiano” por conta disso. Quem não ama, não conhece!
Imperdível por lá:
O maior clássico do Outback é a Blooming’ Onion, uma cebola enorme, crocante, com molhinho no meio. O sabor é dos EUA, mas o formato é inspirado na flor australiana Waratah. Se isso não é um match perfeito, não sei o que é! As outras escolhas foram tentando mesclar os gostos dos dois países. Australianos (assim como os gaúchos) adoram churrasco – por lá, barbecue. O pedido foi uma novidade do menu de almoço executivo: Bondi Cheese Steak – um filé mignon suculento, com molhinho de parmesão. Para acompanhar, adoro a Jacked Potato. Também desbravei a novidade na sobremesa, Strawberry Aussie Moon, com base de biscoito crocante, doce de leite, calda de caramelo, morango e sorvete de banilha. Babei!
