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agosto, 2025

Um Porto que virou cenário de filmes e livros

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Atualizado em 07/08/2025
Foto: Casa de Cinema de Porto Alegre

Em 1820, o naturalista francês Auguste de Saint-Hillaire passou por Porto Alegre e destacou sua localização, que permitia a conexão pelas águas com o oceano e com vários rios navegáveis. “Porto Alegre deverá tornar-se necessariamente, dentro de pouco tempo, rica e fluorescente”, previu. De fato, a cidade cresceu. E se tornou tema não só de relatos de viajantes. Foi cantada, declamada, narrada e filmada. 

Este Porto que nos fascina todos os dias é frequente fonte de inspiração para artistas de várias áreas, sendo cenário, por exemplo, de diversas obras cinematográficas e literárias que eternizaram nas telas e nas páginas o encanto de suas ruas, as características de sua gente e parte da própria identidade da capital. 

Suspense na Ponte do Guaíba

Destino muito procurado por fotógrafos, a Travessia Getúlio Vargas, conhecida popularmente como Ponte do Guaíba, oferece uma vista privilegiada do Cais do Porto e do centro da cidade, bem como das ilhas do Delta do Jacuí. Em O homem que copiava, filme do diretor porto-alegrense Jorge Furtado, lançado em 2003, o local serviu como pano de fundo da tensa relação entre André e Feitosa. Vivido por Lázaro Ramos, André é um tímido trabalhador de um xerox (ele se declarava “operador de fotocopiadora”) que sonha com um futuro melhor e acaba se envolvendo em uma trama criminosa com Feitosa (Júlio Andrade), um traficante de drogas. O clima portuário e os labirintos das escadas e viadutos que dão acesso à ponte reforçam o suspense necessário à trama. Inaugurada em 1958, a ponte é um projeto alemão e liga a capital ao oeste do Estado. Sua característica mais marcante é, sem dúvida, o vão móvel, um trecho da ponte que é içado para permitir a passagem de navios. Quatro torres, com 43 metros de altura cada, sustentam o trecho de pista elevadiço, que tem 58 metros de extensão e pesa 400 toneladas. Em 2020, uma ponte mais alta foi inaugurada para dar mais vazão ao tráfego, já que os içamentos interrompem o trânsito na travessia. 

Os casarões encantados da Avenida Independência

Lançado em 1980, o romance Camilo Mortágua, de Josué Guimarães, se tornou um clássico instantâneo da literatura gaúcha e vendeu mais de 30 mil exemplares. Na obra, o romancista narra as lembranças de um homem rico que perdeu tudo. Camilo havia sido um jovem “bem apessoado”, que “dominava o comércio e a indústria de construções da cidade” e “morava numa das mais belas casas da Independência”. O casarão é o cenário de boa parte da trama. Segundo o historiador Sérgio da Costa Franco, no Guia Histórico de Porto Alegre, no início do século XX “a Av. Independência começou a afirmar-se como um dos locais prediletos da moradia burguesa. Os palacetes da Independência, construídos entre 1900 e 1930, expressam um momento histórico de prosperidade do comércio e da indústria porto-alegrense”. Franco afirma que parte dessa população abastada se mudou, posteriormente, para outros bairros e muitos palacetes foram derrubados para darem lugar a prédios, ou se tornaram cortiços. Mas parte deste patrimônio está preservado até hoje. É o caso do Palacete Argentina, que abriga a sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Erguido em 1901, o palacete de 756 metros quadrados, com elementos em art nouveau e art déco, foi residência das famílias Etzenberger e Barbedo até 1940, quando se tornou uma escola pública. Em 1984, o casarão foi cedido ao IPHAN, sendo tombado em 1990. 

As epopeias cotidianas do Centro Histórico

Região que rende algumas das imagens mais emblemáticas de Porto Alegre, o Centro Histórico é um dos pontos mais registrados na ficção, seja em filmes ou em livros. O longa-metragem Ainda Orangotangos, de Gustavo Spolidoro, é praticamente uma homenagem audiovisual à cidade e, especialmente, ao bairro, que foi a primeira área urbanizada de Porto Alegre e cujas origens, em 1732, confundem-se com a própria história da formação da Capital. Gravado em plano-sequência (uma única tomada, sem cortes), o filme começa com um casal de orientais chegando de metrô à capital. Logo, a câmera acompanha os personagens pelo Mercado Público, subindo no ônibus e atravessando o Túnel da Conceição para continuar a trama na Avenida Venâncio Aires, quase na altura da João Pessoa. Baseado no livro de contos homônimo de Paulo Scott, o filme retrata 14 horas no dia de 15 personagens. Aliás, a literatura contemporânea tem especial afeição pelos encantos do Centro. Em Até o dia em que o cão morreu (2003), primeira narrativa longa de Daniel Galera, o protagonista encontra um cachorro na Praça da Alfândega e depois o leva ao seu apartamento, no alto da Duque de Caxias, de onde se pode ver “a água cinzenta do Guaíba, a chaminé da Usina, as ilhas e os prédios”. Em 2007, a obra foi adaptada para a telona com o filme Cão sem dono, dirigido por Beto Brant e Renato Ciasca, com o protagonista também morando no Centro, mas na esquina da Borges de Medeiros com a Demétrio Ribeiro.

Bom Fim, sempre um gran finale

Região com uma pulsante cena cultural que já assumiu as mais diversas facetas, como a efervescência da Avenida Osvaldo Aranha nas décadas de 1970 e 1980, o Bom Fim é uma dos bairros mais presentes em representações da capital gaúcha nas artes. Não poderia ser diferente, afinal de contas em suas ruas se criou e cresceu ninguém menos que Moacyr Scliar, um dos principais escritores brasileiros, que inclusive homenageou o bairro em seu romance de estreia, A guerra no Bom Fim (1972). No livro, realismo e fantasia se misturam para falar das lembranças de Joel, menino judeu que brincava com os amigos na calçada nos anos 1940, em plena Segunda Guerra Mundial, em meio ao impacto que as notícias vindas da Europa causavam na comunidade judaica. Inesgotável fonte de inspiração, em 2015 o bairro ganhou um documentário para chamar de seu. Dirigido por Boca Migotto, Filme sobre um Bom Fim resgata o passado boêmio e frenético da região através de entrevistas com comerciantes, artistas, jornalistas e antigos frequentadores de espaços que se tornaram lendários, como o Bar Escaler, a Lancheria do Parque e o Bar Ocidente. Inclusive, o plano-sequência que entra na Osvaldo Aranha através do Túnel da Conceição é referência a uma cena de Deu pra ti, anos 70 (1981), dirigido por Giba Assis Brasil e Nelson Nadotti, que retrata como era ser jovem de classe média naquela Porto Alegre setentista e se tornou um clássico absoluto do cinema que a nossa capital é capaz de inspirar.

Um passeio de ônibus até Belém Novo (com uma tartaruga)

Bairros centrais e paisagens icônicas costumam ser mais retratados nas artes e na literatura. Mas no romance Ela se chama Rodolfo, a escritora Julia Dantas leva o leitor a um divertido passeio por regiões mais afastadas da cidade. Ao se mudar para um novo apartamento, o inquilino Murilo tem uma surpresa. Há uma tartaruga vivendo por lá. Trocando emails com a proprietária, Francesca, ele embarca em uma viagem pela capital gaúcha em busca de amigos dela que possam ficar com Rodolfo (assim se chama o réptil). Um desses destinos é uma fazenda que produz cogumelos na zona rural de Porto Alegre, mais precisamente no bairro Belém Novo. No caminho, Murilo vê a capital de dentro de um ônibus: “Lá fora, como se a paisagem estivesse sobre uma esteira rolante, passam campos de futebol, pequenos grupos de vacas, pórticos de sítios, plantações de pêssego”. Ao descer em Belém Novo, o protagonista enxerga “uma pequena praça com ares de cidade do interior: uma igrejinha, um bar pobre, uma construção histórica ao lado de uma casa que anuncia xerox, internet e crepe”. A saga de Murilo e Rodolfo continua por várias regiões da cidade enquanto se desvela uma sensível trama sobre preconceito, amizade e transexualidade. 

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