A ideia de conhecer um dos mais icônicos e tradicionais estabelecimentos gastronômicos de Porto Alegre pode te levar a imaginar um restaurante tri sofisticado e glamouroso. Mas a gente está falando da Lancheria do Parque, um lugar simples, democrático, que é um sucesso há mais de 40 anos. Em um dos hinos que embalam a capital dos gaúchos, a banda gaúcha de rock Graforreia Xilarmônica canta: “Amigo punk, escute este meu desabafo, que a esta altura da manhã já não importa o nosso bafo… Pega a chinoca, monta no cavalo e desbrava essa coxilha, atravessa a Osvaldo Aranha e entra no Parque Farroupilha”. A letra tem um monte de gírias e referências gauchescas que os turistas talvez não reconheçam. Mas o principal é entender que a região onde está localizada a “lanchera” é uma das mais emblemáticas da capital gaúcha. No cardápio, os lanches são todos no aumentativo e, precisamos avisar, tu vai te apaixonar por aquele sucão!
Lanches e suco na jarra do liquidificador
Assim que entra no local, tu já vê o ambiente característico. Do lado esquerdo, um balcão grande que se estende por quase todo cumprimento. À direita, o bufê, que serve de almoço a janta. As mesas ocupam o espaço central. Sentados ali, ou mesmo no balcão, dá para garantir o sanduíche mais conhecido pelos gaúchos, o xis. Tem variados sabores, mas o mais pedido na loja é o de coração. Há também outras opções como salgados, torrada – como chamamos o misto quente -, sanduíche, cachorro-quente e bauru. Se a fome é maior, dá para pedir o famosão filé à parmigiana, ou outros pratos prontos como bife à milanesa, risoto com fritas e o carreteiro (que é outro prato bem gaúcho, basicamente feito com arroz, carne de gado e muitos temperos). Para acompanhar, pode até pedir uma cervejinha ou outra bebida, mas o tradicional mesmo é o suco. Natural, ele é feito ali na hora, na tua frente, e servido com todo o encanto da jarra de liquidificador (risos). Dá para pedir de uma única fruta ou misturar a tua escolha.
No gogó e no carisma
Outra peculiaridade do local é o som. Já dá para ouvir desde a entrada. “Saí um suco de melancia. Saindo um xis de coração com ovo”. É o grito dos atendentes. É que ali a forma de anotar as solicitações é mesmo no gogó, nada de tablet ou QR Code. A comanda, de papel, fica com o consumidor, o garçom anuncia a ordem para o chapista e para quem prepara as bebidas, seja das mesas, seja do balcão. E isso é a todo instante, pois o estabelecimento é sempre bem movimentado. É até difícil de entender como eles não se perdem nas encomendas, porque dá tudo certo no final.
Resistente e fiel
O negócio de família foi criado em 1982 e desde aquela época o bairro Bom Fim é destino confirmado de boêmios e baladeiros. Por lá também já passaram políticos, músicos e artistas, como os integrantes das bandas gaúchas Cachorro Grande e Papas da Língua. “Como vou deixar você, se eu te amo!”, canta o último grupo. E é assim mesmo com a Lancheria do Parque, pois, com essa vivência toda, o local se tornou um patrimônio afetivo dos moradores da Capital. Muitos vão ali diariamente, o que acaba criando uma intimidade entre profissionais e frequentadores, e até uma relação de afeto. Assim, a “lanchera” resiste e persiste, com seu cardápio simples, variado e bem servido.