Dois enormes portões de estacionamento escondem uma preciosidade de Porto Alegre. Mas, quando a gente cruza a entrada, o letreiro anuncia: estamos na Vinícola Urbana Ruiz Gastaldo. Ou seja, um lugar dentro da cidade, onde não há vinhedos, apenas a fabricação de vinho. Considerada a primeira do Brasil, foi construída na garagem da casa do idealizador, o engenheiro Eduardo Gastaldo. Ele quem nos recebe e a sensação é de que cruzamos um portal. Do lado de dentro, dezenas de garrafas compõem o cenário. No balcão, todos os produtos oferecidos pela vinícola butique estão em exposição. Cada um conta uma história. E, claro, em uma garagem, nada mais natural do que um carro estacionado. Mas não é qualquer carro. Uma Mercedes 1979 conversível, impecável. Estamos prontos para embarcar nessa viagem ao universo da paixão pelo vinho.
As histórias de Porto Alegre e da família se misturam
O carro antigo não está ali por acaso. Logo, o Eduardo vai te contar que o bisavô dele foi o responsável por trazer o primeiro automóvel para Porto Alegre, em 1906. É uma história até pitoresca, que ele te explica em detalhes. Essa paixão chegou nele, assim como o encantamento por vinhos. Engenheiro Civil de formação, foi quando Eduardo casou com a esposa Camila, que se sentiu ainda mais inspirado a estudar sobre a bebida. É que o sogro, argentino, dividia a mesma admiração. O primeiro foi elaborado durante a gestação do terceiro filho do casal e, não à toa, é homônimo do rebento, João Pedro. O que inspirou a tradição: os nomes dos outros dois filhos, Luísa e Matheus, e dos afilhados, Marina e Arthur, também estão nas garrafas. Ah! Ainda tem o bisavô visionário: Januário Greco. Nós ficamos encantados com a garrafa do Chardonnay. O nome no rótulo foi escrito pela própria Luísa e o desenho é uma obra do pai, que retrata o Largo dos Açorianos. O vinho que celebra a primeira filha também destaca os primeiros habitantes da cidade. E assim, em outros rótulos, tu vai descobrindo como a história da cidade e a da família se cruzam. O mais tradicional, não poderia ser diferente, é o Pinot Noir Porto Alegre. Mas a gente indica que tu peça para o Eduardo te contar sobre todos: Chácara das Pedras, Redenção, 1927, e por aí vai. Alguns trazem, nos rótulos, imagens e trabalhos de artistas locais!
Visitação na vinícola
Uma das vinícolas urbanas pioneiras do Brasil começou em 2016, com a realização do sonho do Eduardo. Mas foi durante a pandemia que ele decidiu tornar aquela uma verdadeira e inesquecível experiência para quem passa por ali. Em 2020, a garagem improvisada passou por obras, com o projeto da arquiteta especializada em vinícolas Vanja Hertcert. Um fato curioso é que tudo ali é móvel. É que, devido ao espaço restrito, durante o período de safra, os móveis que recebem visitantes são retirados e a garagem é ocupada por equipamentos de produção do vinho e, claro, as uvas. Sim! A lógica da vinícola urbana é oposta à das empresas tradicionais, com vinhedos – quando a vindima é o ponto mais alto. As frutas são compradas de produtores parceiros e vêm de diferentes cidades e regiões do Rio Grande do Sul, como: Piratini e Pinheiro Machado, próximo à fronteira com o Uruguai; Encruzilhada do Sul, na região central; e Caxias do Sul e Vacaria, na Serra. Fora do período de janeiro a março, é possível conhecer o local de quatro formas (todas por agendamento, pelo WhatsApp +55 51 9842-4535):
– Encontro com o produtor: visita de 4 a 10 pessoas, com degustação de quatro vinhos, harmonizados com pães e frios;
– Confraria: encontros para a partir de 10 pessoas, com degustação de, no mínimo, cinco vinhos, harmonizados com pães e frios;
– Eventos: organizados pela vinícola, são divulgados no site e no Instagram, uma vez por mês;
– Eventos fechados: sociais ou corporativos, que fecham a vinícola, com possibilidade de contratação de cozinheiro/chef e outros serviços terceirizados.
Como uma garagem virou vinícola?
Nossa experiência foi no “Encontro com produtor”, em que o Eduardo nos apresenta todas as áreas da vinícola. E é incrível entender a transformação que aconteceu ali, embaixo da casa onde ele mora com a família. Um espaço inutilizado da construção foi escavado e virou a cave – o local onde os vinhos envelhecem, depois de prontos. Os barris e os tanques ficam em uma salinha ao lado, onde a bebida fermenta. O cheirinho é incrível e é quase inacreditável pensar que aquela imersão no mundo do vinho fica escondido em um bairro residencial da capital gaúcha. Em média, a Ruiz Gastaldo produz cerca de 4mil garrafas por ano. E aqui vale mencionar outro detalhe que a gente amou: os rótulos trazem o número da tiragem – o que torna o produto ainda mais único e exclusivo.